Tuesday, August 31, 2010
O vazio que preenche
Diante dessa bolañomania, decidi degustar o meu primeiro Bolaño, optando por um petisco de menos de 200 páginas. Tava achando o livro chato até mais ou menos a página 40, quando tudo começou a se justificar e aquela mágica que faz o coração ficar dormente começou a agir aos pouquinhos, a conta-gotas, me deixando cada vez mais encantada com a história. O personagem principal é um padre apaixonado pela literatura chilena, que também é escritor e crítico literário e passa todo o livro confrontando sua vida através do tal “jovem envelhecido”, de quem parece ter raiva e às vezes medo. De uma delicadeza impressionante, com sutilezas de suspirar, a história dá um certo barato melancólico no final e tem a melhor frase de encerramento de livro que já li. Aí é que se mostra um escritor genial: o cara que calcula o efeito do todo do livro (será que calcula?) e surpreende você com a simplicidade e a humildade de uma narrativa sem pretensões maiores do que a de mostrar que tudo é tão vazio. E que nem a literatura salva.