Wednesday, July 6, 2011

De 6 meses pra cá

Mais um punhado de minhas resenhas informais. Essas são dos livros que li nos últimos 6 meses.




A roda da vida - Padma Samten


Poderia chamá-lo de "meu primeiro livro budista", uma boa introdução para quem tem interesse na temática. Escrito por um físico que se tornou lama, o livro, em um formato enciclopédico, aborda de um ponto de vista quase científico a criação, passo a passo, de nossa ignorância. Digo "quase" científico porque, apesar de mostrar a evolução de nossa visão dualista ilusória em um conteúdo lógico que lembra física óptica, o que conduz no livro essa evolução é a chamada roda da vida, com termos como dukkha, avydia e outras palavras do dicionário budista que podem deixar os menos iniciados como eu um pouco intrigados. Mas meu conselho é deixar de preconceito - típico da ignorância - e seguir em frente.






Além do materialismo espiritual - Chögyam Trungpa

Ao contrário do livro de Padma Samten, esse aqui você lê sem nem se lembrar de que estamos falando de budismo. É um livro precisamente descritivo, de filosofia e espiritualidade, que resumidamente espanca o seu ego - fonte de boa parte das besteiras que fazemos na vida. E o materialismo espiritual está justamente na busca pelo lado espiritual que só alimenta o ego, em vez de nos conduzir ao confronto - ou melhor, ao reconhecimento - de nossos medos, falhas, preconceitos. Nossa cabecinha é um grande criador de mundos confortáveis ou infernais para nós, cabe a nosso trabalho mental-braçal tentar controlar o motor gerador de infelicidade do ego.





Eletroencefalodrama - Joca Reiners Terron

Um dos melhores livros de poemas que já li. Comprei essa relíquia de 1998 em uma queima de estoque da extinta editora Ciência do Acidente, no ano passado. O livro impressiona pela quantidade de poemas simplesmente maravilhosos - eu poderia dizer que 100% deles, sem estar exagerando. Foi o primeiro livro de Joca Reiners Terron, o que me deixou ainda mais impressionada com a qualidade muito acima da média de um livro de estréia.





Todos os belos cavalos - Cormac McCarthy

Ouvi um amigo comentar que a literatura de McCarthy era para homens. Isso me estimulou ainda mais a conhecer a tal literatura para machos. Meu amigo, de certa forma, tinha razão. Mas justamente por ser livro de temática e formato essencialmente masculinos, eu recomendaria ainda mais às mulheres. O meu primeiro McCarthy conta a história de John Grady, um garoto americano que foge de casa com o seu cavalo para lidar precocemente com o mundo adulto e nada fácil no México. A economia de palavras e aparentemente de sentimentos no texto de McCarthy consegue ser mais sensível e precisa do que muitas tagarelices sentimentais. Isso foi o que mais me tocou no livro, seu formato seco, direto e de uma beleza que parece um diamante escondido em uma parede de rocha. Um texto fiel ao jeito de se comunicar masculino, que é tão cheio de sutilezas em seu aparente vazio bruto. Fiquei com a sensação de que homens às vezes são melhor compreendidos por cavalos do que por mulheres.




Portões da prática budista - Chagdud Tulku Rinpoche

Lindo livro, extremamente didático, indicado para quem não desistiu da temática depois de ler os dois primeiros dessa lista. Esse já se trata de budismo clássico, com introduções aos assuntos básicos do dia-a-dia de quem quer rezar e meditar para minimizar os seus problemas e os dos outros – quiçá pular fora dessa vida inventada.