Janeiro acabou-se e com ele dois livros que comecei em 2010. Dois curtinhos e gostosos, que me foram dados pelos próprios autores: Alexandre Rodrigues e seu “Veja se você responde essa pergunta” e Angélica Freitas e o delicioso "Rilke shake".
O de Alexandre são contos, daqueles que personagens e cenas ficam na cabeça de tal forma que a gente às vezes se pergunta se aquilo ali realmente não aconteceu com algum amigo ou parente, sei lá (por mais absurdo que os acontecimentos possam parecer, como no sensacional “o esquerdo ou o direito?”, parece que aconteceram mesmo). O livro todo é muito bom e é difícil destacar alguns contos (fui fazer isso e percebi que estava transcrevendo o nome de quase todos eles aqui no blog).
O outro livro são poemas sabor ovomaltine, que deixam o dia mais bonito, sem deixá-lo mais doce. Reveses em cocôs de pombos, a sinceridade do dia 13 de outubro e o lindo “fim” (tão lindo que quase dá vontade de rir, como no elevador).
Acabou-se janeiro, começou fevereiro.
Lá vão dois poemas do livrinho:
às vezes nos reveses
penso em voltar para a england
dos deuses
mas até as inglesas sangram
todos os meses
e mandam her royal highness
à puta que a pariu.
digo: agüenta com altivez
segura o abacaxi com as duas mãos
doura tua tez
sob o sol dos trópicos e talvez
aprenderás a ser feliz
como as pombas da praça matriz
que voam alto
sagazes
e nos alvejam
com suas fezes
às vezes nos reveses
fim
keats quando estava deprimido
se sentindo mais pateta que poeta
vestia uma camisa limpa
eu tomei um banho
com os dedos ajeitei os cabelos
vesti roupas limpas
olhei praquele espelho
o suficiente pra
sem relógio caro
fazer pose de lota
e sem pistola automática
pose de anjo do charlie
então eu disse: “é, gata”
rápida peguei as chaves
saí num pulo
só fui rir no elevador